quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Relógio parado

O menino estava sentado de joelhos juntos, mão no queixo e olhos fundos, fundos de cansaço. Prendeu por um breve instante o seu pensamento em seus olhos fundos, percebeu nesse ato, de fixar-se em seus olhos, que não havia entre ele e ele mesmo algum tipo de conexão como havia outrora. Tentou, mais de uma vez, voltar seus olhos para dentro, todas as tentativas em vão, não conseguia conectar-se à sua alma; entristeceu-se. 
O menino, ainda sentado de joelhos juntos e mão no queixo, notou que já estava ali, estático e sem olhar para nada, a um bom tempo. Estavam quebrados, olhos, olhar, alma e ser. Ser já não era algo que ele sabia; entristeceu-se.
O que estou fazendo aqui? Perguntou-se tirando a mão do queixo para ascender mais um trago. Entre um trago e outro o cigarro acabou rapidamente e ele ainda não havia chegado em alguma resposta, se é que chegar a uma resposta, naquele momento, fosse possível, agora estava sem resposta e mais cheio de perguntas, e estas, bem, como a outra estavam todas sem respostas; entristeceu-se. 
O menino virou o pulso para ver as horas e o quanto já estava atrasado, perdido sem entender nada do que estava acontecendo com seu relógio e com sua vida, viu que haviam passado apenas três minutos desde que havia sentado ali, juntado os joelhos e sustentado os olhos pesados com a mão no queixo. 
Os minutos estão pesando sobre mim como se fossem horas infinitas. Foi a resposta que ele deu à uma moça que passou e perguntou "como você está?". Ele ainda estava perplexo com seu exílio momento em lugar nenhum e com a vida e os olhos pesando, entristeceu-se.