quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Dos acúmulos que hoje me fazem dizer, estou cansado.

Porque não da pra chorar acúmulos, não da.
O choro vem, o choro vai, você não consegue controlar o que esta sentindo e ai sente tudo e depois senti nada, e nesse intervalo chora, e ai respira fundo e depois volta no começo e ai vai até que resolve vomitar tudo.
E ai, não sabe nem o que vomita primeiro, ou como, em que ordem, estão todos os acúmulos querendo sair da garganta que acabaram entalados.
Eu não queria ser um acumulador, nem um gravador, nem um baú, nem nada, queria ser uma folha, sem humanidade, uma folha que aparece em uma arvore qualquer,  cresce, muda de cor, e ai o vento leva, e essa folha vai até pousar em um canto qualquer e ali ficar ate que suma do mundo, que vai com  vento sem questionar, sem precisar limpar mesas, sem lembar dos apertos de mão, sem ter de lembrar das palavras, sem lembrar, apenas ir, e ir.
Durante o dia, meus 21 anos me revestem, em uma armadura impenetrável, nada ultrapassa, nada me fere, nada me atingi, mas a noite, quando esta tudo escuro e em silencio, sou de novo o garotinho perdido na cidade grande, contanto ovelhas pra conseguir dormir, pra conseguir não pensar, pra conseguir fechar os olhos tranquilo, sereno, e ai dormir, sem estar cansado.
Talvez, só talvez, eu esteja cansado de que me perguntem , "e seu pai?", e eu tenha que medir palavras pra dizer, sem demonstrar o nó na garganta, que ele deve estar por ai, em algum lugar, que eu não fiz cartões pro dia dos pais, que eu nunca comprei um presente pro meu pai, que eu nunca disse oi pai, ou então, tchau pai, ou até logo pai, ou, pai, me ajuda com isso, não consigo sozinho. Talvez eu só queria, esse tempo todo usar a palavra pai, dizer, gritar, ter. Mas é só um talvez.
Ou talvez esse tempo, eu tenha mesmo era guardado o desejo de ter um pai, de andar no parque, ou só  ir até a padaria numa tarde de sábado, ou ter pra quem entregar o trabalhinho da escola que eu fazia no dia dos pais sem falar pra professora ou pros coleguinhas que eu não tinha pra quem entregar, e que depois entregava pro meu vô ou pro meu padrasto e depois, de noite, sem armadura eu chorava, como agora.
Talvez, mas só talvez, eu esteja cansado de ter que dizer,"eles devem saber, mas fingem que não sabem", quando perguntam, "e sua família, sabe de você?", e eu tenho que controlar minhas lembranças, pra não lembrar que eu ouvi que sou um erro, um doente, que preciso de tratamento e que preciso fazer consultas ao psicologo, quando eu deveria ouvir "eu te amo". Mas é só um talvez.
Talvez eu devesse fazer algum tratamento de perda de memória, e esquecer de todas as mãos que me foram estendidas, de todas as palavras, que da boca pra fora, para mim foram ditas, talvez, mas só talvez, eu devesse me atirar na frente de um carro, e bater a cabeça para perder a memória, e não lembrar dos abraços, e das juras de amor, e das esperanças que insistem em existirem apresar dos pesares.
Talvez, quem sabe, eu deveria ser uma folha, que o vento jogaria na frente de um carro, e esqueceria de que era uma folha e cairia num lago e viveria como um peixinho dourado.
Ou talvez eu deveria trocar de musica, publicar esse vomito, e lavar o rosto.
Mas é só um talvez.

I'm feeling like a lost little boy
In a brand new town
I'm counting my sheep and each one that passes
Is another dream to ashes
And they all fall down ...

https://www.youtube.com/watch?v=_KbgZZo0Zfo