terça-feira, 26 de novembro de 2013

Carta de numero 8. Metade do inteiro que somos nós.

Eu estava passeando pelo Vale Bregaglia e foi quando estava na velha “cidade” Savogno que recebi a carta. Não sei exatamente como foi que me encontraram em Itália, eu já estava pensando que jamais receberia ou escreveria outra carta, imaginava que a de numero sete seria então a ultima. Mas a questão é que recebi.
Sentei-me em uma daquelas casas de pedra e comecei a ler a carta.
“Eu sei que talvez você tenha encerrado a busca, mesmo tendo dito que não, eu sabia que sim, você havia desistido,e simplesmente estava viajando por ai, simplesmente admirando as belas paisagens desse mundão. E eu sei que não deveria te mandar essa carta, afinal acho que sobre essas coisas você vem mantendo distancia desde a então carta de numero sete, mas eu precisava conversar com alguém e você me pareceu, e de fato é, a única pessoa capaz de entender verdadeiramente o que eu aprendi.
Depois que você simplesmente deixou sua busca de lado, muita coisa aconteceu por aqui, eu também fui em busca de muita coisa, eu também vive novas experiências, mas é sobre apenas uma que eu queria falar com você.
Você mais do que qualquer pessoa sabe, que muitas vezes, eu decido sentimentos pela razão. Mas a vida tem uma maneira “engraçada” de nos mostrar que nem sempre estamos no comando. Não tenho medo do fim, mas sim o que o fim faz comigo, os sentimentos que o fim traz. E foi com medo desses sentimentos que eu deixei passar muitas pessoas as quais poderiam não ter trazido esses sentimentos pra mim, e racionalmente acabei escolhendo me deixar levar por um sentimento o qual, racionalmente, não me traria nenhum sentimento ruim que vem com o fim. E para minha surpresa, o que a primeira vista me parecia ser a melhor escolha, acabou sendo justamente aquilo que eu não queria. Essa foi a forma “ engraçada” que a vida achou pra me mostrar que nem sempre estou no comando, sobre isso que eu queria conversar com você. Por mais que eu tenha me protegido, ou pelo menos imaginava que o estava fazendo, por mais que tenha feito racionalmente escolhas, as quais eu julgara terem sido as melhores pra mim, ela, a vida, me mostrou que nem sempre o que eu acho que é o melhor, é de fato o melhor, e o fim que eu achei que não chegaria, chegou e com ele os sentimentos que eu tanto temia. Talvez se eu tivesse me permitido antes, sem o medo desse fim, o fim não teria chegado como chegou com a pessoa que eu não espera que o fim fosse chegar. Mas não tem como eu saber agora, a vida tinha uma lição pra mim, e eu aprendi, por mais escolhas que eu faça, nada, ou quase nada esta em meu comando, eu não posso estar tranquilo com minhas decisões, pensando em meu bem estar, pode ser que acabe tudo bem, pode ser que não. Sim imagino que você deva estar rindo agora, pensando que eu quis bancar o espertinho e me dei mal, mas daqui um tempo, ou quem sabe agora, eu já esteja rindo disso, e consciente de que aprendi.”
Percebi depois de ler a carta, que sim ele estava percebendo que viver é mais complexo do que imaginamos, que lidar com sentimentos e com pessoas é mais difícil que passar de ano em matemática. Sim eu ri como ele imaginou, mas não pelo que aconteceu com ele, mas sim por ele ter percebido o que a vida tinha ensinado a ele. Não eu não o respondi, vou terminar essa viagem e quando chegar em um novo lugar em uma nova estação, quem sabe eu tenha uma resposta pra ele, ou algo novo pra contar, essas cartas nunca sabem quando vão voltar a  aparecer mesmo, não é?